quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Autopsicografia - Fernando Pessoa, título igual, poema diferente.

Sou palavras.
Nada mais do que isso.
Imagens, pinturas, fotos, caricaturas
Minhas, nada disso me interessa.
Sou, tão e somente, palavras; as vezes dispersas, ilógicas
Ou insensatas; as vezes tranquilas, sensíveis e pensadas; as vezes
Invisíveis, mudas ou caladas; as vezes agudas, tenazes e bizarras; as vezes,
Tão profundas que na imensidão do mundo que a profere, passa despercebida. Sou
Palavras: sou amor.
Se as dores do mundo vem para dignificar o Homem, que venham.
Se a velhice vem para tornar o Homem mais sábio, que chegue.
Se a escola torna o Homem mais hábil, que se faça.
Mas que isso tudo não nos crie uma carapaça onde se esconde quem
Verdadeiramente somos e o que queremos. Mediante a tudo isso e a possibilidade
De alguém ter tido a mesma idéia do que eu, reafirmo o que escrevo:
Sou palavras.
Nada mais do que isso.
Sou palavras:
Sou amor.

13/11/2010

Nuvem

Observar tudo de cima
E ter companheiras com a mesma função;
Não me preocupar com baboseiras,
Me manter sempre são.

Movimentar sem saber onde vou,
Atiçar a curiosidade das pessoas pelo que sou
E assim...Não! (o vento muda e o pensamento também)

Me mantenho afastado de sentimentos
(Mesmo que quando pesada, chore);
De medos (mesmo invisível a aparição do sol);
De certezas (apesar de saber que a qualquer hora estou lá)

...

"-Olha lá - dizia o garoto meio encabulado.
-O quer que eu veja, moleque? - retruca o pobre velho, cuja mão enlaça a do jovem rapaz.
-Aquela nuvem...se parece...comigo! - sorri a criança a olhar para o velhote.
O velho apenas balança a cabeça e continua andando. Uma pena. Não descobriu algo importante naquele dia."

30/01/2010

Apologia a Lua I

Oh, doce lua!
Quando por ti, no meu quarto, observado,
Sinto que nada pode se perder,
Vejo e compreendo juramentos que fiz e ainda vou fazer,
E antecedo que a descoberta da morte se faz de forma doce e agradável.

Ainda assim, tu me traz saudade
De quando criança, adulto e velho;
Das brincadeiras que antes abominava e hoje venero;
Do medo que antes não tinha e hoje se faz presente;
Dos sentimentos que sempre julguei idiotas e hoje necessito;
Da necessidade e da felicidade que as almas cruas e frias (ou assadas e quentes =D) me trazem;
De desconhecer o conhecido e conhecer o desconhecido.

E, ao observar a ti, lua cheia,
Vejo que a falta de todos se faz presente,
Para sempre em minha mente.
...

"Pobres neurônios, para onde foram?
Levei-os para passear...
E os deixarei lá por um tempo;
Para que possa carregá-los
Apenas mais uma vez".

29/01/2010