"Eleições 2010: mais uma festa da democracia". Pode ser para os outros pois, a mim que não tive minha candidata entre os presidenciáveis do 2º turno, foi momento de escolha e reflexão. Marina e seus quase 20 milhões de eleitores contribuiram não só para a existência do 2º turno como para o aparecimento de uma palavra que a muito tempo não se via nas disputas presidenciais: alternativa. Essa grande mulher, evangélica, colocou suas crenças de lado em busca de um país mais democrático: julgou que as grandes questões dilemáticas que a nação vive - legalização da maconha, por exemplo - deveriam ter suas respostas em pleibicitos e consúltas públicas; trouxe propostas acerca das questões referentes ao governar e não se imaculou pela velha forma de fazer política: o fuxico, as acusações rasas, o "disse me disse" e as ofensas ao carater e as questões puramente pessoais.
Confesso que vivi um trauma no 1º turno: saí para votar e vi ruas imundas, boca de urna, compra de votos, entre outras coisas que minha mãe considerou "comum" em tempos de eleição. Na minha seção, havia uma senhora idosa que nem votar sabia! Perguntou ao moço da fila se os números estavam corretos e como se utilizava a urna eletrônica. Vinte minutos depois, volto para casa e aguardo ansioso o resultado do 1º turno; nenhum candidato elegido mas vivi a alegria de acreditar, desde a primeira parcial, que existia esperança da "onda verde" "invadir" o segundo turno. A atuação de Marina Silva, nestas eleições, para mim e para muitos teve a mensagem que todos nós queríamos dar ao Brasil: chega da velha politicagem, da corrupção, da falta de compromisso com o eleitor e com o erário.
E assim, nós, os "indecisos", vivemos a falsa esperança de assistir uma propaganda com propostas e um debate sério; Em vão esperei a resolução do caso Erenice, Paulo Preto e adjacências. Ao contrário. Vimos a religiosidade, as privatizações, o aborto, a disputa entre quem tinha os piores antecessores, a bolinha de papel...tudo isso na mesma panela. Mais engraçado é que nós, cidadãos, comemos este mesmo prato do primeiro turno - se puder imaginar a comida que mais odeia, tens sua resposta.
Partindo para uma análise, nestas eleições, o PT mostrou como se elege em massa pessoas do seu partido e coligação: a união de nomes é o segredo - a "DilmaLula", fenômeno indissociável como "LídicePinheiro", eleitos para o senado baiano, é prova disso. A construção de campanha desta coligação foi inteira fundamentada na imagem de Lula. Mostrar como este governo retirou as pessoas da linha de pobreza, proporcionou emprego, crédito... tudo isto esteve em pauta na campanha "Dilma Presidenta". Do outro lado, além das coisas que fez na vida pública, Zé Serra, como sempre faz a oposição, critica a corrupção e coloca seu nome como sinônimo de ética. Em ambos, nada de propostas. Samuel Celestino, de forma aguda escreve, "Dilma e Serra ofereceram o mesmo cardápio robotizado, o mesmo samba de uma nota só" e isso, se reproduziu de forma verdadeira. Dilma veio na onda Lula de popularidade enquanto Serra incorporou a personagem de arauto da ética e da luta contra o vilipêndio a democracia. Eis que, neste clima, iniciam-se os debates a questões nada pertinentes.
A luta pelo destaque religioso se instaurou entre os candidatos. A exemplo disso, o debate pelo aborto entre presidenciáveis é infundado pois, para que possa ser descriminalizado, o aborto perpassa pelo legislativo e não executivo. As privatizações debatidas já ocorreram. De que adianta rever o que foi feito? Além do orçamento governamental não comportar, a época, a manutenção dessas estatais, o que poderia ser levado em conta é como elas foram vendidas e o que o Estado recebeu com a venda. Além dos casos Erenice e Paulo Preto, o surgimento da polêmica bolinha de papel deu margem a algo maior que os últimos escândalos vividos nestas eleições: movido por um imediatismo comum a suas declarações, Lula faz seu pronunciamento sobre o caso de forma agressiva e, na minha opinião, descompassada. Durante seus oito anos de mandato, eram quase semanais as frases e declarações polêmicas que Lula dava. Contudo, a malemolência era sempre superior a todos os problemas sofridos. Agora, tem-se o dilema: irá Lula se retratar? Acredito que não. E ele, que para mim não era "nenhuma brastemp", realça ainda mais a minha aceitação lulística no nível regular de governo. Sobre o ocorrido, Dora Kramer traduziu aquilo que escreveria aqui: "[...]Tudo isso sem necessidade.[...]Tudo isso pelo exercício de um estilo abusivo que não conheçe limites, mas que daqui a oito dias começará a perceber que o poder passa e a ausência dele dói".
Meu voto? Como Caetano digo que "Meu voto em Marina continua tendo validade.Influirá no próximo governo. O embate entre os outros dois anula meu voto possível neste segundo turno. Simplismente sinto que já votei o suficiente".
Só espero que a palavra a que tanto me apego volte nas próximas eleições: alternativa.
30/10/2010